domingo, 28 de novembro de 2010

A sinfonia


Partia de manhã, não encontrava no sol o brilho que precisava. Sendo sincero com seus instintos, que mais pareciam loucura do que razão, não precisava de mais nada além da impossível descoberta. E se era impossível por que o fascinava tanto? Escondia-se noite após noite para ver os olhos brilharem. Na primeira vez ficou paralisado, como num sonho. Na segunda noite correu para descobrir a responsável por olhares tão surreais e na terceira andou leve, passo a passo para um outro desaparecimento. Disse tão triste, tristeza necessária e suficiente para a poesia, que seus olhos eram os horizontes que o guiavam pela madrugada. Percebeu que só parado seria possível observá-los. Talvez os olhos soubessem o porque dessa infinita crueldade. Como impedir um homem de correr atrás de seus sonhos e mesmo assim, o deixar feliz.

sábado, 27 de novembro de 2010

O fenomeno dos não-solitários.

Não acredito que alguém não-solitário consiga ser escritor. Perdoem-me, minhas companhias.
Sei que conto com um forte comboio de conversas, interações e gentilezas. Digo-me feliz com isso. Mas o que conta nesse caso é que não sou um não-solitário. Obviamente tal caracteristica não se dá por elogio e sim por necessidade. Afinal, não há ser-humano que se baste ao ponto de ser aturado por todos. Porém, sim, existem seres humanos que tem a necessidade de serem aturados por todos. Eu não sou um deles. Sinceramente, poucos homo sapiens me interessam.
Frequentemente me dou por feliz em estar sozinha. E felizmente, tenho com quem dividir a mim mesma.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Não tem pelo que sorrir

Quem se importa de onde vem as balas? Os pais desesperados não irão raciocinar, as crianças assustadas não saberão de quem estão correndo. Mas todos choram por vidas e por sonhos que morreram em nome da violência.
Deixo aqui meus sinceros sentimentos em nome de todas as vítimas que por acaso ou condição, foram a consequencia de uma causa podre e injusta.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


A natureza quis me fazer gelo mas numa erupção qualquer do tempo, falhou.
Não satisfeita me fez como o vento mas por ser muito leve, fugi.
Tentou insistente, fazer fogo quente. Mais longe que fui, queimei.
Criou então a areia, as rochas, pedras preciosas. De tanta confusão que criei, expulsaram.
A natureza então resolveu com pele, carne, ossos e todos se perguntaram tão tristes se seria mesmo algo tão certo. Ela sorriu e resolveu. É dúvida, mais nada.

domingo, 14 de novembro de 2010

( )

Arte. A Representação Total da Essência.
Queria eu, no auge da loucura extirpar de mim o que há de mais proveitoso e colocar em cores. Não existe ato de maior generosidade do que a arte.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Na companhia das letras.

O maior erro da minha vida foi executado logo em seu início. Primórdio de erro
e concepção.
Nasci durante o dia e insisto que foi por isso que chorei. Ingênuos os médicos, fotos e família. Pensam que por circunstancias efémeras e naturais, derrubei algumas lágrimas.
Hoje, adulta por lei e sociedade, concederia-me o direito de gozar da noite em sua total plenitude, não há trabalho que me caia melhor do que a escrita. Não me interpretem mal, jamais afirmarei que executo tal oficio com tanta excelência que qualquer outra atividade permaneceria obsoleta em minhas mãos.
Apenas creio que excluindo o amor e a culinária, a noite não me concederia
prazer tão intenso como a companhia das letras.
O silêncio noturno, quebrado por um bater de asas de quem não conhece o dia ou por um choro ingênuo de quem ainda não descobriu a vida. Confesso que me derreto em versos quando a noite sopra um vento frio, não gélido, não quente. Apenas frio o suficiente para que me faça presente a solidão.
E hoje, quando percebo a presença de uma única e perdida estrela dentre a imensidão noturna, não me entristeço. Sei que somos partidas, partilhamos algo no infinito.
Talvez um segredo, talvez uma esperança.