segunda-feira, 30 de julho de 2012

Bastidão


Manda esse mundo todo
vaguear nas curvas de um vaga lume
palavras bonitas, o que
me usarei de poesia de palavras feias
e então
quem sabe a vida se encontra na graça
porque de belo nada acontece
só monstros rodeiam o agreste
e o sul, surtado
centro-oeste
aponta
aponta o caminho que corro
quem sabe, alcanço talvez
de certo o deserto
me abriga
transcendo, explodo
me uno ao nada
pertenço ao todo
que invade
me prendo, essa raiva
passa a vida inteira num bambolê
que é pra ver descer a noite
companhia aceitável do copo
alvorada insistente do corpo
e se fosse resto

bastaria?

sábado, 28 de julho de 2012

Disfarce



sei que os carros viram luzes
e estão fugindo
todo esse frio da noite
que condensa
todo esse calor do dia
que transfere
e neste mundo só as ondas
sem cor colorem o rito
que gira em torno do ritmo
circunda uma circulação sem
curva
mas seria um mistério
um anjo talvez
quem tem asas, quer colo?
quem tem pergunta, opção?
na verdade, bastaria muito pouco
de intensidade, sobraria quase nada
é que essa dimensão 
é louca
e cambaleante
 só
disfarça.
mas tudo pode ser triste também
e num compasso
escorrer como lágrima
e quem escutará a canção-melodia
quem encontrará o ritmo-poesia
o existir é estável
a culpa 
é que
invade

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Selo

Língua que viaja até o céu
resposta que alcança os sentidos
rompe sustos
 invade os ouvidos
Falada, amassada, dilacerada
idioma, furada, entendida
vem mais pra perto
vem falar à minha língua
Qual palavra, o que
do que pulsa, o que invade
é só transporte?
é só linguagem?
Extensa esfinge dos enigmas
Soluços 
refletidos das imagens
sem tosse
sem toque
sem nada
Língua nem travessa
nem tratada
engole esse deserto de letras
cospe um turbilhão de palavras
que essa língua não é pecado
é saudade.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Decolagem

Para com isso
que o mundo foge mesmo! Não é por revelação
desespero
no fundo todo mundo quer fazer o certo
e se alguém se diz errado
é porque quer pose, contradição, reinado
A busca incessante 
supera sempre o radical
o que incomoda, o que faz barulho
o revelador
incondicional.
Parece até que foi programado
aí vem aquela resposta toda
e você sequer lembra
de ter perguntado.
Porque tem coisa que é assim mesmo
aparece e some de repente
a rotina salta
e todo resto
arrepia tanto
que quase voa.

sábado, 14 de julho de 2012

Fonte

Bebe desta água
que de sua fonte
brota e borbulha
desalinhados e rinocerontes
verde se faz o céu ao 
anoitecer
fogo que há no dia
transforma-se vago
e afoga mágoas
para refletir
Vai, coloca seu rosto
imundo
neste torpor 
profundo
que não se sabe
quando sair.
Suspeita 
de corações gentis
respira fundo
o vermelho-alma
que agora grita
pra
desconstruir.

domingo, 8 de julho de 2012

Tem encantos



Desencontro (canto) encontro num encanto um desencontro
Desencantar-se
do que já foi [encanto]
os mesmos olhos que
agora piscam
Despistam em frequência inexata
por não ter o que olhar.
Registro que já foi tanto
faz-se agora brando
até por fim
desregistrar.
E suposto, tempo firme
vai-se embora
que medíocre é o retrato (tão fiel)
e sem-razão.
Todo o círculo conspiratório
desencontra
pra puro encanto
que é melhor
dês-encontrar.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Língua


Ninguém sabia de onde eu vinha, diziam olha só, o que você é um anjo um usurpador um santo um demônio, eu dizia não, não e ria, sou só algo que precisa ir embora, então você já vem sabendo que vai embora, sim eu respondia e eles coçavam a cabeça e perguntavam então por que veio. Vim porque tinha que vir e as coisas acabam, mas aqui ninguém vai embora não, é da barriga pro céu do céu pra barriga, eles me olhavam torto e achavam muito engraçado eu ter uma mochila ou trouxinha que era como eles chamavam. As crianças achavam que eu era um super herói porque só tinham visto gente  assim lá na teve, uma só que seu Antonio tinha na vendinha e era festa quando conseguia fazer funcionar, elas pegavam minha gaita e falavam que tinha um rádio lá dentro e eu sorria um pouco, meio de lado e fazia graça e elas riam tanto que só elas e eu gostava muito. A cidade toda já me conhecia, aqui não é cidade não, é o que então, eu perguntava, aqui é aqui , eles diziam, e você é o que, eu sou eu, respondia e daqui a pouco a cidade inteira sorria pra mim, que podia até não ser cidade, mas era feliz, mesmo sem saber o que é felicidade. Então um dia o vento soprou mais forte e eu senti que era a hora e eles choraram tanto e perguntaram, mas afinal, você é o que um anjo um usurpador um santo um demônio e eu dizia não, não sou não, sou só alguém que precisa ir embora.