segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dia do Livro

Todo livro é um caso de amor, uns passam voando, como furacões e desestabilizam a vida,certas histórias não conseguimos largar. Alguns passamos pra trás, tem livros que tocam a alma, outros que não servem de quase nada. Alguns ficam pra sempre na cabeceira, outros empoeiram-se na estante, solitários, possessivos ou aglomerados, podemos ler dois, três, até quatro ao mesmo tempo e mesmo assim, conservar seus valores.
Livros, histórias, amores.
Não vejo tanta diferença assim.

sábado, 27 de outubro de 2012

(pra ler ao som de John Lennon)



É claro que uma vez ou outra, deitaremos a cabeça pro lado, e sozinhos na cama

Percebemos que o mundo inteiro não cabe no nosso travesseiro

Nada que uns minutos de meditação e um disco do John Lennon não resolvam

Desprender-se será sempre a chave da liberdade, mas quando queremos entrar pela janela

Portas e chaves já não fazem tanto sentido

Estender-se com cheiro de flores rodeando o quarto, e entender-se apenas
No silencio

O silencio, som que se molda

Desconstruindo a solução ilusória de nunca estar só

Um todo, um toldo, um rastro

Meu grito será um eterno mantra

Buscando uma paz que não existe, um amor que não persiste
Um momento que jamais será
Mas há busca
A busca.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Um dia você vai acordar e eu vou estar na Índia



Um dia você vai acordar e eu vou estar na Índia, brincando de Gandhi, praticando meus mudras e convencendo o mundo a andar de mãos dadas. Estarei acariciando hortaliças e plantando leões, estudando constelações, lendo cartas, inventando destinos, viajando em qualquer lugar que se mova, movendo-me em qualquer movimento que flui. No palco, no chão, passarela, posso aprender a nadar e virar campeã mundial de surf, praticar snowboard, virar guru, posso falir uma empresa, descobrir a estrada da terra do nunca, guerrear com piratas, jogar dardos nas águas, ter três filhos, três tombos, três calças. Posso ter dois, quatro, seis amores, viver de poesia, voltar aos anos 60, me casar com Jimi Hendrix. Posso virar estressada, violenta, julgar coisas depressa demais, voar voos rasos,perder o foco, olhar de novo pra trás. Afogar-me em mágoas e copos de vodka, parar de fumar, de amar de comer, dar um salto do alto do Himalaia, tirar fotos destorcidas e premiadas, pintar o corpo, mudar o rosto, trocar de nome. Quem sabe brincar com o fogo e fugir com o circo, me arranhar com solos de guitarra, se conformar com o mundo, acreditar em pecado, no certo, no errado. Tanto faz o que foi e o que vem.
A vida pra mim é um fluxo.

A única proibição é parar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vigésima primavera

Quem é esse senhor de barba
e terno escuro
que me fita assim meio perto meio
como quem se esconde
empurrando sempre o desassossego
pra longe
e me faz criança
pra correr atrás das pipas
que sequer levantavam vôo na minha longa infância, coitadas
por navegar sempre com navegante de vento contrário.
Visitava então um lago
de pães macios e patos contrariados
e que prazer tinha aquilo, meu deus
que teria hoje, eu sei
mas só não há porque não há mais
lago
nem pães macios
nem patos
Há um resto de livros ainda vivos
que nunca serão lidos ao contrário
no máximo, esconder-se-ão tímidos
no fundo do armário
até se depararem com outro tempo
que ainda cresce e insiste.
Porque o meu um dia fica velho, que sei
mas por enquanto sequer passa
só o sol que dança com a terra
e me faz crer, descrente e sincera
que mais cedo ou mais tarde
chegará minha vigésima primavera.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bico

Foi mais ou menos ontem que chorei de triste que o tempo passa.
Seria em algum momento que deveria ter parado, ou seria parado que deveria ter momento?
Haveria algum instante que valeria seu fluxo, terá algum
restante?
O que há de finito nesse movimento não precisa 
de felicidade, e sim de força
pra continuar a passar
poque só o que não passa
é morte
 O agora é nosso eterno constante
que voa com nossas caras
descaradas
Nosso corpo vive fixo
Mas ainda surge e ressurge
não é porque não alcançamos o céu
com os pés
que desaprendemos a voar
o céu que nos alcançou com o azul
e é tão mais brilhante 

indeciso
que me solta os ares e me falta o ar
de tão irrestrito que fica
sobra o impulso
de sumir pra alcançar.
Mas o limite não é tão sério assim.
O único e limítrofe problema
é que emprestamos nossas asas
ao tempo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

automóvel



...Acho que o segredo está numa grande loja de cd que toca jazz e na música que continua na moeda que se joga para o músico de rua, a magia deve estar no passo que passa alto e sem medo de chegar em algum lugar, o segredo tá na vontade e na coragem de querer, no risco perpétuo e contínuo de ser. De ser tudo, de não pensar em nada, de vislumbrar no espaço uma montanha e se enxergar alto, o suspiro convicto de quem ama.
Esse amor estranho que insiste em comandar a vida e dirige sem caminho certo, o amor é o automóvel desenfreado que rejeita o motorista e viaja na direção que quer.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Giro

O céu pode estar azul
e então um xamã
grita para o mar o seu reflexo
Na imensidão, estamos todos sozinhos
mas não há solidão no vazio
vamos esvaziar
nossos corações 
um no outro
e juntar o que era calçado
desmontar esse mundo todo
inventado
e colocar cor
e saber de cor
o que há de certo, de errado e de resto.
Uma multidão também galanteia poemas
Não há arte que se baste
nem amor que se faça sozinho
Mas o corpo gira corre prende insiste
As mãos não julgam
nem os traços
Quem é que vence
Quem é que falha
esquece a mente
desmente as falas
deixa a alma sozinha que ela se encontra
E vamos fazer uma roda
uma roda
com nossos corpos
que é pra ver se o mundo gira.

http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=YmF8mP968YQ&feature=endscreen