quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Âncora

Ás vezes tenho um medo imenso
de dar um passo em falso e 
furar o barco
que me leva em tão longos caminhos
turbulentos,de maré alta
que só reclama quando calmo
Aí esbarraria numa ilha
a ilha da calmaria inebriante
e o maior monstro nela habitado
é gordo e desajeitado
dorme de vento pro ar
e assopra um ronco ruim de escutar.
Pois não. E não.
Quero seguir viagem
mesmo que me custe passaportes
coloridos
com a cor borrada de uma lágrima
salgada
e assim, mesmo que renda discursos
e sorrisos desesperados
goles e goles de mágicas e magias
inventadas (por mim)
mesmo
mesmo assim
terei voado.
E é isso que importa afinal
quem precisa ancorar seu navio
estamos de passagem
que dura
e mergulha
fundo e profundo
numa constelação sem fim.

Árvore Rosa

                                                                 Para Priscilla Balio

Sutil é qualquer conspiração
das palavras que brotam
em nosso corpo e mente
e caminham, muitas vezes
sozinhas, coitadas!
Por baterem, toque por toque
na porta errada.
Mas reluzentes, nunca desistem
essas palavras que transformam-se
em brilho no olhar
meio mel meio cor do céu
que encara o mundo
numa cambalhota
e desvenda sonhos numa árvore rosa.
Sorte em ter asas para dizer
e olhos para voar

nos sonhos, nos tombos, no ar...



domingo, 25 de novembro de 2012

aRitmo

Não há desrritimia no silêncio
acentua ao abrir os olhos afundados
no marítimo desejo de mergulhar em sonhos desajeitados
meus sonhos são todos meio errados
nunca sonhei aquilo que sonham os ajustados
de cabeça para baixo o mundo se fazia mais presente
e eis que de repente
num susto me descobri
algo que não era compatível com o mundo me cobria
desnudei-me então em cores e palavras, expostas
incrustadas no ser-sujeito à mim
Ah, que tombo bom essa queda toda
mesmo as lágrimas não correram em vão
são ritmo de uma crença
dessas que criança pensa
e não suponho desacreditar
Pode-se dizer "Cuidado
não ande nos montes, não pise nos galhos"
mora embaixo da cama
é um bicho lindo
mal compreendido, que espera
sozinho e triste
um abraço de boas-vindas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Nova Sede



Tem um seco aqui dentro
Que não machuca como um grito ou nó
Mas arranha-me de uma sede
Que sacia-se á luz do vento das palavras e rua
Vazio e todo o resto que calcula
Mas qual soma multiplica minha sede?
É uma voz que não se contenta em falar
E rabiscos que não se bastam em seus sinos!
Tocam tocam dia e noite sem cessar
Buscam abrigo e embriaguez
Contentam-se com um misto de amor e sensações indecifráveis
A verdade é que ultimamente tem me dado uma sede danada da vida
Que balbucia, mas nunca cessa
E descubro, à medida que bebo um pouco dela
Que jamais deverá ser cessada
Deve ser brindada e esbaldada
Como dois chafarizes em plena primavera
Só assim, mesmo com a garganta arranhada
O coração despedaçado
E fantasias desgastadas
A sede te gera ânsia
De correr, ultrapassar
De matar um eu antigo, de afogar qualquer vestígio
Do que nunca foi sede
De uma sede incessante
Que sufoca e liberta
Mas nunca seca.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Mississipi

Ao lado das musas, descabeladas em caracóis
Há os gênios tocadores de gaita
Que balançam nas estradas
De onde vivi
Não que tenha crença ou religião
Mas sei que houve uma vida
Em que vivi nas estradas
E via de tudo, pode acreditar
Vi o sol nascer gigante, ocupando três palmos do céu
História pra boi dormir e criança acordar
Acordei numa noite que não levantou
E dormi meio à um povo que sequer sorria
Mas todo dia
Sem raras ou pequenas excessões
Havia algo de novo pra balançar sentido
e emoções
Perguntam-me, quem diria, quem dirigia os caminhões
Mas já andei até de camelo, quando o bolso apertou
Peguei carona com o Príncipe Encantado (que diga-se de passagem, é um tanto chato)
E dividi a cestinha com o Lobo Mau
Tive também muitos amigos, com quem dividi discursos e abrigos
Tudo passava tão rápido
Que houveram mais de meio milhões de abraços de despedida
Meio milhão, você acredita!
E era tão bom, porque acumulavam-se e confundiam-se
Com os cumprimentos de Boas-Vindas
Eu levantava o chapéu, buscava uma razão
E defronte ao céu que mesclava cores de anoitecer
Sim, porque mesclava rosa estrada e laranja cor de mel
Sorria uma saudade que não doía
Porque por não parar
A opção era só minha
Mas ninguém se chateava
Naquele tempo, o mundo rodava
E todas as dimensões do universo
Se cruzavam na estrada.

http://www.youtube.com/watch?v=BsG4RwBwBeA&feature=related 

sábado, 3 de novembro de 2012

Beija-Flor

Quando pensava não haver nome
lhe digo que há
e há todo o resto que ganha brilho e vontade
afim de exercer sua função de ser.
O que é não há é idade
nem pro tempo nem pro reflexo incansável
e quando assim
cansares de suas palavras
não haverá mais nome pra elas
serão suspensas e iletradas
então mude de sujeito e país
troque de plano perfeito
que o seu
mantém-se por dois tris
o seu plano de tão irreal, ainda é plano
e ainda seu
e eu que não tenho plano algum
escrevo, detenho, liberto e nada
ou tudo
e nesse fluxo que detém
há uma verdade manipulada
pelo fogo
derretendo-se toda, coitada
e sequer o mapa muda de cor
qualquer rasgo e selo e carta e marca
permanece no ontem
e quem vê o agora, qual local
onde
onde todas as mensagens de elevação espiritual vão nos levar?
e se não tiver pra onde elevar?
e se não houver onde chegar?
o todo é aqui
aqui é o lugar.