domingo, 29 de setembro de 2013

Certeza

Tudo parece longe
As mãos que dissertam a vida
Disseram enfim, colorida
Montagem artificial da alma
Discurso incompleto do ator
Aquele que incorpora todos os dias
O mesmo papel
De levantar da cama
E pisar na lama
E desmontar o lixo
E viver pra si
Mas o verdadeiro clown da vida
É aquele que sorri em partidas
Decompõem em pedaços suas próprias vontades
E balança junto ao saltimbanco embriagado
Basta para todas as vontades!
Daqui em diante
Seremos sós
Nós e alma
Um copo de vinho

E mais nada.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Céu

Vou acender uma vela
Pra pedir aos céus que deem jeito
Em meu coração de poeta
Pois ao deparar-me com qualquer folha
Desprevenida em sua brancura
Desconto todo amor e amargura
Que ainda reside a mim.
Sou assim como o ar
Um vento passageiro nunca se repete
E voo tanto que até meu coração se perde
Em um milhão de considerações repentinas
Ah, sou repetida em minhas mentiras
Mas tão original em invenções coloridas
Que voam mais alto do que o ar
Poderia fugir para o mundo que me acolhe
Mas abrigo alma nas palavras
Desconto corpo em palcos
E suspiro
Suspiro
Insisto tanto no amor
Assim como utópicos
Anarquistas
Revolucionários
Vou guerrear com minha razão
Desconstruir um céu inteiro
E ainda assim
Declaro de antemão

O mundo

É dos que namoram as estrelas.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Primaveras

Eu vejo todo esse mundo olhando pra mim
Como quem olha pra uma flor que desabrocha ou para uma planta que nasce
E pergunto quem foi que plantou esse jardim
Esse que hoje persiste em mim
E não sei mais o que faço com tantos sorrisos
E olhares que me engolem em seus rios
E suspiros que não me buscam nem mastigam
Então desprendo-me de mim mesma
Numa dança cósmica que me leva
Aonde vou chegar, parece tão irrelevante
Posto que hoje sou
Posto que hoje grito
Posto que hoje danço
E invento histórias
E balanço
Posto que hoje ainda me admiro com flores
E acredito nos anjos das crianças
Que sussurram seus pedidos antes de dormir
E essa primavera tão repleta vem chegando
Saga de tantos amores e poetas
E eu, aqui, sem amor e sem poeta
E com tantos amores e poetas
Sequer descubro minha flor predileta
Mas ainda danço
E invento  histórias
E por incrível que se mostre, balanço em balanços impróprios
(pois os seguranças dos parques não conhecem minha criança
enxergam uma pessoa grande, coitados!)
E ainda vibro com tantas coisas
Que ainda me ponho viva
E essa primavera assopra sempre mais uma vela
E velas tornam-se velhas primaveras
Primas, amigas
Primeira de tantas, devo a elas
Mais uma
Outras muitas

Primaveras. 

sábado, 24 de agosto de 2013

Título

Saber que o mundo gira
E que as coisas permanecem insistentemente em seus lugares
Meus olhos desviram o cosmos, refletidos em momentos oportunos
De desoportunidades únicas
Sou um reflexo, um martírio
Por considerar tantos mistérios
Em um único suspiro
Posso então rodar junto ao mundo
Que me consome e me cospe de volta
A essa selva desarticulada que se transverte de vida
Todos os cálculos estão errados.
Nenhum segredo foi ainda revelado.
O óbvio voa frágil
Como bolhas de sabão
E o que faço então?
Vou acariciar esta identidade
Foi-me concedida como fantasia
E de todas, ainda me parece
A mais certa e a mais partida
E de tudo, o que faço
É fazer.
Afinal, se é o mundo que gira
Resta-me
Apenas
Re

Conhecer.

sábado, 3 de agosto de 2013

Galope

Depois de encarar a vida com tanto fogo nos olhos, ar de sobrevivente e teoria de principiante, depois que o mundo surge com suas traças e urge com suas garras, não há desilusão que não se resolva. Fera felina essa Terra que gira, fazendo de mim uma dama na dança das ilusões perdidas.

Ah, tanta poética.

Pra simplificar o óbvio que se disfarça. Mas não há problema algum, pulo da janela da alma para as letras que se mastigam em mim mesma. Todo o ar é minha convicção, e se um dia crescer, chorarei em luto eterno, dançarei sobre este caixão revestido de mágoa e tralha.

E de toda conspiração, essa revolução inconsciente que movimenta nossas pernas em direção ao explicável, tudo faz sentido, tudo parece tão claro e espiritual, que é quase um rito.

Meias verdades que me consomem são fantasias mal colocadas, máscaras usadas e descartadas dos bailes que dancei outrora, bailes vívidos de viúvas de si mesmas que já se amaram.

Um compasso único é o que me movimenta, vou guardar um tesouro de letras, vou acumular uma riqueza de momentos e brindar com cicuta minhas revelações ancestrais.

Ah, esse mundo que sorri. Mundo, meu criador ou criação minha?

Sei, que de tantos, confesso, que, portanto, viver é a maior sentença.

Estamos por fim, condenados.
A voar sobre as rédeas da vida. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Caco

Que brote em mim a ideia de matar o tempo
Que morra em todos, a falsa ilusão de confundir
 hoje com ontem
O dia partido traz em si a ilusão de viver
Vida não é existir
Vida é transgredir a existência
De todo o óbvio, consolida-se verdade em olhos descobertos
Malícia do som externo da rua que me envolve
E mesmo agora
Minto
Qual erro mora em minha mentira
Que não possa ser abençoado?
Benção aos desajustados
Os corretos constroem um mundo enfermo
Os certos constroem o inferno
Só quem é feliz em sua própria mentira
É capaz de amar
Só quem dança com almas partidas
Pode entender a beleza do amanhecer
Corpos inteiros, almas completas, certezas repletas
Não vagueiam meu mundo
Meu mundo é todo feito de cacos de vidros
Que sangram em si mesmos
O amargo da ferida
E sedentos, saboreiam
Inertes, maltrapilhos, presentes
Eles sim saboreiam

O sabor da própria vida

terça-feira, 23 de julho de 2013

Linhas

E então
Valeria mais o sofrimento
Do que essa manifesta e presente
Borboleta da emoção
Que se ausenta?
Ah, mas de tudo, não sei
Constrói-se um castelo,
Inventa-se um suspense
Na vida suspensa
Essa vida, se existe
Pra que existe?
Será que pra ser bela,
Será que existe pela dança
Ou pelas crianças
Ou sabe lá sequer se existe
Bebe-se o cale-se
Das partidas
Brinca-se com os riscos repartidos
Ah, qual delas
Qual estrada será meu destino
Meu ponto final ainda brilha distante como uma estrela prematura
O ponto de exclamação que voa presente
Cadente
Dançante
Sou de tudo, um pouco nada
Um pouco nada que se faz
Um pouco nada que se importa
Um pouco nada que insiste em tudo persistir
Cato todos os sonhos de Pessoa
Encanto o infinito de Vinícius
Vejo de longe o bater de asas do Passarinho engaiolado e livre de Quintana
E sei que de todos os risos
Um valerá a pena, nem que seja um pássaro inteiro, mesmo daqueles pequenininhos
Voa, voar nas palavras fiéis, bonito traço de meu destino
Essas linhas que se juntam
Cruzam
E rumam
Desconexas

Rente ao inexistente 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Liquidificador ou: arte pra mim, o que é?


Arte pra mim é o que acolhe e joga no mundo. Que faz do todo, seu minuto.
Aquele momento, em que mais nada existe, apenas um passo, um grito, palavra.
Arte que me faz arte e também artista, que acalenta com seu choro, e consola-se em si mesma em seu infinito rio de lágrimas.
Não digo exatamente que é o que me conserta, mas é o que faz de meu desconcerto, algo harmônico.
E o que era angustia vira livro e suspiro. Desconcerto-me, desconcentro-me do mundo e de toda matéria real, tudo vira pulso, momento pulsante, respiração e batimento cardíaco não são mais o que eram,
Quando caminhavam discretos
No asfalto, matéria antiga
Meus pés querem matéria viva
Como essas que compõe os sonhos. Mundo romântico de quem ama, todo artista de verdade já sofreu por amor. E quem não?
Sendo o que é, não passa então de uma reciclagem, de mente pra corpo, pra tudo e pra arte.
Como pode, nesta seqüência de letras, de notas, neste cambalear certo onde caminham os movimentos
Como pode conter uma emoção liquidificada, sentimentos lubrificados pelo entardecer ou nascer do sol
Lua não é só lua
Dor não é só dor
Amor? É todo o resto!
Arte, companheira, amante, deita comigo na cama, desperta em mim toda a vida
Esquece o asfalto
Minha matéria prima

É o palco.

sábado, 4 de maio de 2013

Trevas


Quando fica frio
E na madrugada recém descoberta
A sensação de que tudo é bonito
Acontece
Logo mais, não que seja desaforo
Algo irá brilhar no céu
E me pergunto por que diabos
A ausência de luz é tão condenada
Pois bem, só assim
Aprende-se a enxergar no escuro
A sentir o cheiro
A dançar com o medo
O sol só nasce, pois havia fugido
Rápido e conciso
Para um mundo do outro lado e mais nada
Ah, mas tudo é sim bonito
Nem que seja agora
Nem que seja o instante
Sem motivo ou vontade
Momentos, minutos antes
Mas não é que virei para trás
E assim sem discurso nem mais
O sol já brilha entre os dentes
De toda esse mundo que agora
Se diz, por fim
 contente
E tudo que era noite
Agora se despede
e aguarda em mim
Uma nova noite que brilha
Uma treva, nem tão treva assim.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Fera


Paixão, fera dócil e desalmada
Que tão desconcertante que é
Vai muito além da pessoa amada
Um dia assim, na distração da vida
Apaixonei-me pelas palavras!
E não só isso, todo o resto que me cercava
Pois se não amo então a vida
Como traçá-la?
Não ser um ser apaixonado, parece-me um martírio e tanto
Nem que seja pelo contrário
Nem que seja no momento errado
Mas não há disfarce que baste
É preciso estar apaixonado.
Coração pulsante e se ainda não percebe outro
Que problema, que nada!
Ame um nascer do sol
Instantes após a madrugada
Se não ama alguém por completo
Ame o sorriso, e mais nada.
Apaixone-se pelo caminhar lento e despretensioso
 Por um instante rápido e carinhoso que de certo já existiu
Ou quem sabe por um movimento, um pulo que seja
Um telefonema de domingo que transforma este resto de semana em semana inteira
Ah, um filme
Uma canção
Uma obra
Opinião!
Mas ame
Ame e seja justo
Faça jus
Ao poeta e as poesias
Fiel e verdadeiramente

Ao todo coração. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Suicida


Todo poeta é um pouco suicida
Mata-se assim
Tiro a tiro Por poesia
Cada palavra exposta em prosa
Cada reflexo mantido em verso
Impõe em sua alma tal discurso
Que ela própria deixa de cuidar de ser alma
E morre mais um pouco, a cada instante
Pra dar lugar a palavra
Então a alma do poeta vê-se colorida em rimas
Não há rancor, nem sossego, nem amor
Mas há rancor
E sossego
E amor
Na alma do poeta toda palavra mata
Passa a tomar lugar em si
“deixe-me entrar”
  falam elas
E então o poeta é só uma rima
Gigante e suicida
Espírito em uma folha em branco
Daquelas que compõe o pranto
Dos seres que não sabem rimar
Mas poeta que é poeta nem liga pra rima
Não pensa, nem quer encontrar
É que a palavra já virou sua língua
(por isso é desbocado, desalmado, desastrado)
Esse ser descrente e letrado
Saudades tenho do tempo que não falava!
Era um parágrafo novinho em folha
Que tinha em si todos os espaços
possíveis pra despistar
E hoje dados os passos
  da vida desencontrada das metáforas
faço-me um resto de
 poesia em papel abandonado.
Um suicida que desaba nos pingos das letras
E nas janelas das palavras
Um suicida letrado
Mais nada.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

nós gatos


Ser ser humano é um tanto complicado
Se posso escolher
Na próxima vida, venho gato
 Gato que  bem está onde está
E se não está, ainda está bem
Pois é gato
Gato sabe uma palavra
 Mil miaus em entonações variadas
Bem diferente da gente
Que repete e insiste e consente
Mas não mia
 (coisa triste essa de não miar)
E todo olho de gato é bonito
E todo pelo, peludo ou pelado também
Além de tudo, não precisa de nada
Tango, classe, sapato
Tudo isso, de graça, tem o gato
E dorme
E come
E mia
E procria
E eu
Aqui
Sentada
Fazendo poesia.
Troco isso e mais um minuto
Na próxima vida, venho felina. Uma gata!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Poço


Tantos absurdos
Tantos amores não vividos
Tanta coisa que parou no meio
O mundo deve ter um poço de mágoas
Um poço fundo e desumano
Bebe-se dele água, vira-se ele todo
Esse poço
Que só acalma no desgosto do corpo
E do copo
E dos dias que passam nas máscaras inúteis da felicidade
Todo esse poço
Toda essa gente
Não acredito em pessoas felizes
Elas não existem, são só reflexos
A felicidade é um copo de wiskhy
É ler um bukowski triste
É dançar
Tudo que afasta o pensamento é feliz
Tudo que leva a ele, infelicidade
Eu queria ser ignorante
Eu queria ter outra idade
Eu queria pegar um ônibus
E fugir
Pra bem longe
Pra bem perto do poço
Onde mora a cruel
E fatal

 realidade

domingo, 31 de março de 2013

Rosas

Digna e imensa
essa atmosfera de vida
que me sustenta
desse todo pulsante
que vibra
concentro-me sendo um coração errante
por não desistir dos caminhos
encorporar meus destinos
e ritmado, desconcertado e desacelerado
observar passos antigos e já passados.
Sei que há um mundo no tempo
esse que me acolhe e sustenta
passeando no espaço que me é dado
agradeço rosas e espinhos que circundam meu caminho
por ser assim, tão dependente
como a arma da flor que a suspende.
São elas, minhas palavras
flores regadas com versos
defendem-se, é claro
ora essa
mas vivem para perfumar vidas alheias
que vezes montam buques
amados e perfumados
outras sequer sentem cheiro, cor ou tato.
Hoje, de olhos fechados
percebo o pulso repleto
pulsante
errante, 
constante
que ainda persistente e florido
tem a bonita certeza
de não haver caminho certo

o certo é sempre caminhar.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Caminho


Posso ver daqui o movimento das nuvens
Que apago com a ponta do travesseiro
Travesseiro que acolhe gotas e pensamentos
Discretos e violentos
Suporta a matéria dos sonhos
Que engolem minhas vontades e as criam
Asas, vôo num suspiro
Posso ver em velhos olhos
Que habitam novo corpo
Posso ouvir num clássico do blues
Minha garganta gasta e aprisionada
Que fala tudo tudo que quer
Expõe tudo tudo que pensa
Mas no mar dos sentimentos
Contenta-se digna e imensa
No silêncio dos passos e da poesia
Na chuva, choro das nuvens
No balanço do palco e do mundo
Que acolhe
Que suporta
Morde, estica e grita
Mas não falha
Do outro lado da calçada
 Ainda avisto meu semblante
Dançando leve
e sozinho.

terça-feira, 5 de março de 2013

Estadia

Assim habitado
(ora) por passageiros
programados, que com suas malas pesadas
fincam moradia eterna
numa casa nunca antes
habitada,
[sendo assim lembrados e reservado
um quarto, um terço
um pedaço dessa morada imensa
que pulsa, grita, atropela]
Ora visitado por viajantes
aventureiros, que em busca de pulso
constante
invadem um habitar errante
sem ter ao certo onde chegar
E quando assim, meio desprevenida
atropelam-me
visitas
que buscam qualquer lugar.
Piratas exploradores de tesouros
que ao encontrarem seu ouro
 se despedem sem nem notar.
Ou, certamente, príncipes notórios
andarilhos serenos
ciganos cambaleantes
sujeitos pequenos
Para todos já houve espaço
e delirante, ainda guardo um pedaço
pra quando esse coração-albergue
entregue os pontos, as passagens, as vontades
e vire morada fixa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

UniVerso


Universo

Pluriverso

Multi versos

Que aquecem o meu corpo

Aquele que dança no presente

E embarca no inverso

Do verso

Que brota na mente, estomago, língua

Lambendo minhas ideias lânguidas e já vividas

Ideias partidas, partilhadas em folha branca

Retrato, suspense, lembrança

O forno quente, o mundo geme, a criança entende

Verso que varia

Compõe minha sinfonia, auto, alta e própria

Mas se fosse apenas um

Qual deles seria?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

It is a Hostel?


Nunca gostei de dizer para onde estou indo. Talvez pela satisfação em si, talvez por inconscientemente pensar que isso poderia limitar meu caminho.

Creio que esteja certa, pois quando naquele dia, por opção ou acaso, acabei simplesmente seguindo aquele grito de fera aprisionada dentro do peito, e saindo.

Pois que moro há vinte anos contados no mesmo lugar, tirando idas e vindas inevitáveis, o cálculo se reduz á isso. E por vinte anos, creio que em sua maioria, disse aonde ia.

Sei que dizendo aonde vou, declaro também aonde chego. E os lugares por si só, de tanto frequentados, cansam a sua magia.

Mas não naquele dia. Posto que descobri uma rua que sempre existiu, e eu, preocupada com os caminhos já antes traçados, não a percebia. A percebi. E não só. A explorei, explorei como as últimas das terras habitadas, como uma viagem á lugares inéditos e deslumbrantes. E nesta caça á novas paisagens, percebi casas e árvores nunca vistas, debrucei-me junto á um céu, que como todos os céus, nunca se repetirá. E posso garantir, com emoção ou imagem, que era belo. E como é belo um céu descoberto.

Descobrir é escapar das amarras de si mesmo, que no conforto de existir, suspende-se sem surpreender.

Mas não é que voltando, sinto um cheiro nunca antes sentido. Era uma mistura de fragrância e descoberta:

-It is a hostel?

Ela pergunta.

-Yes.

Escuto como resposta.

Por dentro, ria.

Eu, julgando-me exploradora por adentrar um simples novo caminho, e ela, respirando um ar que sempre respiro, na rua que até hoje vivo, iria descobrir naquele mesmo instante quantas infinitas casas e árvores e noites, que eu, por abstinência de ânsia de arriscar, já ultrapassei em sentir.

Mas enquanto houverem novas ruas a serem descobertas e novos céus a admirar, posso respirar tranquila, e ainda assim, confortar-me por faltar o ar.

Melhor do que sair sem dizer pra onde vai, é caminhar sem ter a certeza de onde se pode chegar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Prece aos quatro elementos

Brisa a brisa
a cada passo
assim dessas que se fecha os olhos
por aparecer
essa que acompanhe meu caminho
e vez ou outra
com decisão e intensidade
rogo um furacão

não leve
não livre

apenas furacão

que de tão intenso falte ar
em meus pulmões
e bagunce
meus sentidos
do cabelo ao corpo inteiro

E buscando qualquer verdade
o verde balançar entre brisa e tempestade
um fogaréu, onda rasa

Que leve meu destino
que indique a minha casa
onde na terra que piso
encontre proteção e abrigo
alimento de visão e calma

Na dança que a chama me clame
ardendo no chão e no palco
de vermelho, vermelhidão pós espetáculo

A prece
eu prego de mãos dadas
ainda entre os dedos, com energia
e posição equilibrada.

Carrego comigo o caminho
que me direcione sempre
pra união revelada
de mente
coração
e alma,

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Furo

Desconheço por completo
a imensidão deste cálculo frio
e sequer sei
se afogo ou afundo
neste mar triste e vazio.
Que resiste à qualquer rima bonita
ou canção jovem e desprevinida
eu procuro, disfarço, improviso
Mas é assim,
sequer querer ou tentar
de cabeça baixa e olhar atento
que vejo esse estranho
mundo habitando em momento.
Eu queria, como eu queria
e não nego!
Material, constelação, declaração
nada disso ou além deve faltar
mas eu procuro, meu bem
procuro por bem

escapar,


(e se não houver nada em mim
anseio
receio
encontrar)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ópio dos sonhadores


Vontade que é

 E só some

Quando consome

Delirante

Desvantagem errante essa de

Desejar

Desejo que pulsa o movimento do mundo

Descubro em um segundo

Qual vontade saciar

De nota em nota

Denota cor e som

E toda essa fúria

Que só as vontades sabem ter

Se na próxima vida pudesse ser algo

Seria uma vontade sussurrando no ouvido

Tudo que hoje é, tudo que hoje vive, tudo que hoje pulsa

Tudo que arrepia

Surgiu antes como anseio incontrolável

Por avanço e movimento, a vontade desejante de desejar antes

Antes que por descuido ou desvantagem

se faça em sacrifício

e desapareça

antes de matar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Tela em Nuvem


Chuva que cai e molha corpo presente

Chuva não se entende, se sente

O mundo te chega um pouco pro lado

De todos os sujeitos simples, sujeitados

Sozinhos são os verdadeiros bem acompanhados

Que sorriem ao passar o verde azul tênue

 separação de tela em nuvem, surgindo nova ao nascer do sol

Fecha os olhos e sorri, um pouco gelada

Mas vívida e contínua cai a água

E de resto, o mundo objeto

Dramatizando vontades, improvisando sorrisos

E tudo isso que somente é

Mas prepotentes insistem em fazer

Indico: Uma dose de amor-não-correspondido e duas de poesia

Pra amenizar a objetividade do mundo

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O minuto

Tão triste
os minutos
desce-se os degraus
e o minuto fica no caminho
fica nos sorrisos
o minuto para num altar
vê de longe a vista imensa
pede-se licença para o mundo
que o minuto quer passar
passa na ida e volta
e leva consigo vestígio
e deixa comigo memória
sobe-se os degraus
e os minutos já saíram do caminho
sobra um sorriso
sobre uma palavra
pulsa uma vontade
uma verdade por minuto
bate, bate, bate
um
um
um
u
m
u
m
m
m....

domingo, 27 de janeiro de 2013

Quero conhecer algo que ainda não conheço.

Pode ser um novo plano astral ou estado de consciência, invenção recente do amor ou da ciência
quem sabe um caminho, outro traço do destino
uma velha amiga, qualquer justificativa.
Quero conhecer o reflexo
mergulhar no inverso
outras estradas que transferem destinos
 sem se movimentar
sujar os pés em lamas nunca pisadas
e ainda com elas
massagear o rosto com sopro de ventos inventados
Vou achar a música que inspira uma obra
um novo gosto e cheiro transvestido de fruta
Encostar em outras mãos, revelar novos abraços
desvendar o mistério de mim mesma
e de todos meus personagens
um por um
os nascidos e criados.
Cuidar de um bicho doido
enlouquecer de uma loucura inédita
chorar de rir de tragédias
viver um amor de cinema
escrever uma história da vida, auto didata, didática ou biografia
partir nos inícios
aparecer em despedidas.
Dito e feito
eu suspeito do mundo
tão grande e suspenso de tudo
que sempre resta um quase
Um fio
Dito e feito um fio inventado.
Quero conhecer o que não conheço.
O resto é suspiro do passado.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aeronave

Ai, olha aqui dentro
tem um mundo inteiro se mexendo
que já viajou por tantos continentes
e até hoje não se faz inerte
numa viagem de pulso em pulsa.
Digamos que há um passageiro residente
daqueles que mantém os olhos atentos
vez se entrega ao voô
vez se retrai no jogo
É que esse hemisfério é imenso
carrega consigo o movimento da terra
gira gira e nunca reside
num país, cidade ou esfera.
Deve ser um eterno passageiro
que quer descobrir o mundo inteiro
até por fim
aterrizar.
E não resiste há um voô estável
essa turbulência que movimenta a vida
estando sempre presente
nos reflexos de chegadas e partidas
vive
numa aeronave insistente
sempre pronta para decolar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Felino

Tem um leão aqui dentro do peito
domesticado, talvez
que não atende a nome ou chamado
desobediente, mal educado
e adora mostrar os dentes
estender as patas
entender todas as coisas erradas.
O leão dança até tango com o diabo
e valsa, baila baila nos céus
estende o chapéu e ganha uns trocados
pra se alimentar da carne que vive
porque a alma já tá alta e resiste.
Leão de olhos e dentes alcalinos
unhas que arranham meu peito
e aperto os olhos felinos
caçando uma presa em si mesmo.
Presa , presa em mim
vítima e cúmplice da mesma
jaulas e coleiras
cóleras e correntezas.
Vagueio no mundo
em quatro patas constantes
sentindo o chão
o chão
de um leão inquilino
que habita meu coração.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O mascarado

Vazio do cão
latindo ao fundo
da rua desabitada
que antes de repleta
era noite,
mais nada. Como agora o é
e insiste em ser
todo tempo
que o tempo passa.
Coitado dele
que segue sozinho
inabalável e continuamente
que a gente vai e fica
tem uma galáxia a nossa espreita
e uma eternidade ou casa
nos esperando.
Mas tem.
Só que nada
espera o tempo
que pena que tenho
desses culpado mascarado indecente
que esculpe á todos repentinamente
e a noite
bate sem medo
nesse silencio do tempo vazio
do som do latido
do cão ao fundo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Escada

Vou dizer que a culpa é sua
vou dizer que o tempo que passou depressa
se ao menos aquelas árvores carregassem romãs!
Mas eram maçãs os frutos perversos
E toda essa história que anda ao contrário
o começo do mundo
e seu inventário
Inventar o desnudo mundo inventado
esse dos amores impossíveis e contos de fadas.
Mas já carreguei um monte de nuvens nas costas
e choveu muito, meu Deus
 tanto que sequer me lembro do espaço
E era céu imenso aquele que me cercava
sorte que surgiram anjos
e asas
sorte minha que o tempo passou na passagem
e tocava música
e os querubins sorriam de bobagens tolas
assim como riem os homens, em sua completa ingenuidade.
Dança de pombos brancos e negros gatos
bailaram juntos Jesus e o Diabo
era festa no céu
e todo mundo tava fantasiado!
Nesse céu tão distante.
Esse céu-mito inventado.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mandarim

Vem rápido,
que ainda ontem era tempo
de descalçar os sapatos e beliscar os traçados
da multidão desavisada
que vinha sorrindo até mim.
Queriam suspiros e palavras performáticas
queriam amores quentes e um milhão de amigos fiés e dedicados
além de certezas, delicadezas e introspecções repelentes.
E eu sorria, o que cabia a mim  fazer
se era sorrindo que vinham até mim dizer
que o ano era longo
que justo era vento
que passa depressa e respeita seu tempo
que eu, vivendo em precipícios
de justa medidas
deveria era correr com os pássaros
pois esses voam alto
por não ter
aonde chegar.