quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O minuto

Tão triste
os minutos
desce-se os degraus
e o minuto fica no caminho
fica nos sorrisos
o minuto para num altar
vê de longe a vista imensa
pede-se licença para o mundo
que o minuto quer passar
passa na ida e volta
e leva consigo vestígio
e deixa comigo memória
sobe-se os degraus
e os minutos já saíram do caminho
sobra um sorriso
sobre uma palavra
pulsa uma vontade
uma verdade por minuto
bate, bate, bate
um
um
um
u
m
u
m
m
m....

domingo, 27 de janeiro de 2013

Quero conhecer algo que ainda não conheço.

Pode ser um novo plano astral ou estado de consciência, invenção recente do amor ou da ciência
quem sabe um caminho, outro traço do destino
uma velha amiga, qualquer justificativa.
Quero conhecer o reflexo
mergulhar no inverso
outras estradas que transferem destinos
 sem se movimentar
sujar os pés em lamas nunca pisadas
e ainda com elas
massagear o rosto com sopro de ventos inventados
Vou achar a música que inspira uma obra
um novo gosto e cheiro transvestido de fruta
Encostar em outras mãos, revelar novos abraços
desvendar o mistério de mim mesma
e de todos meus personagens
um por um
os nascidos e criados.
Cuidar de um bicho doido
enlouquecer de uma loucura inédita
chorar de rir de tragédias
viver um amor de cinema
escrever uma história da vida, auto didata, didática ou biografia
partir nos inícios
aparecer em despedidas.
Dito e feito
eu suspeito do mundo
tão grande e suspenso de tudo
que sempre resta um quase
Um fio
Dito e feito um fio inventado.
Quero conhecer o que não conheço.
O resto é suspiro do passado.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aeronave

Ai, olha aqui dentro
tem um mundo inteiro se mexendo
que já viajou por tantos continentes
e até hoje não se faz inerte
numa viagem de pulso em pulsa.
Digamos que há um passageiro residente
daqueles que mantém os olhos atentos
vez se entrega ao voô
vez se retrai no jogo
É que esse hemisfério é imenso
carrega consigo o movimento da terra
gira gira e nunca reside
num país, cidade ou esfera.
Deve ser um eterno passageiro
que quer descobrir o mundo inteiro
até por fim
aterrizar.
E não resiste há um voô estável
essa turbulência que movimenta a vida
estando sempre presente
nos reflexos de chegadas e partidas
vive
numa aeronave insistente
sempre pronta para decolar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Felino

Tem um leão aqui dentro do peito
domesticado, talvez
que não atende a nome ou chamado
desobediente, mal educado
e adora mostrar os dentes
estender as patas
entender todas as coisas erradas.
O leão dança até tango com o diabo
e valsa, baila baila nos céus
estende o chapéu e ganha uns trocados
pra se alimentar da carne que vive
porque a alma já tá alta e resiste.
Leão de olhos e dentes alcalinos
unhas que arranham meu peito
e aperto os olhos felinos
caçando uma presa em si mesmo.
Presa , presa em mim
vítima e cúmplice da mesma
jaulas e coleiras
cóleras e correntezas.
Vagueio no mundo
em quatro patas constantes
sentindo o chão
o chão
de um leão inquilino
que habita meu coração.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O mascarado

Vazio do cão
latindo ao fundo
da rua desabitada
que antes de repleta
era noite,
mais nada. Como agora o é
e insiste em ser
todo tempo
que o tempo passa.
Coitado dele
que segue sozinho
inabalável e continuamente
que a gente vai e fica
tem uma galáxia a nossa espreita
e uma eternidade ou casa
nos esperando.
Mas tem.
Só que nada
espera o tempo
que pena que tenho
desses culpado mascarado indecente
que esculpe á todos repentinamente
e a noite
bate sem medo
nesse silencio do tempo vazio
do som do latido
do cão ao fundo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Escada

Vou dizer que a culpa é sua
vou dizer que o tempo que passou depressa
se ao menos aquelas árvores carregassem romãs!
Mas eram maçãs os frutos perversos
E toda essa história que anda ao contrário
o começo do mundo
e seu inventário
Inventar o desnudo mundo inventado
esse dos amores impossíveis e contos de fadas.
Mas já carreguei um monte de nuvens nas costas
e choveu muito, meu Deus
 tanto que sequer me lembro do espaço
E era céu imenso aquele que me cercava
sorte que surgiram anjos
e asas
sorte minha que o tempo passou na passagem
e tocava música
e os querubins sorriam de bobagens tolas
assim como riem os homens, em sua completa ingenuidade.
Dança de pombos brancos e negros gatos
bailaram juntos Jesus e o Diabo
era festa no céu
e todo mundo tava fantasiado!
Nesse céu tão distante.
Esse céu-mito inventado.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mandarim

Vem rápido,
que ainda ontem era tempo
de descalçar os sapatos e beliscar os traçados
da multidão desavisada
que vinha sorrindo até mim.
Queriam suspiros e palavras performáticas
queriam amores quentes e um milhão de amigos fiés e dedicados
além de certezas, delicadezas e introspecções repelentes.
E eu sorria, o que cabia a mim  fazer
se era sorrindo que vinham até mim dizer
que o ano era longo
que justo era vento
que passa depressa e respeita seu tempo
que eu, vivendo em precipícios
de justa medidas
deveria era correr com os pássaros
pois esses voam alto
por não ter
aonde chegar.