domingo, 30 de janeiro de 2011

foi de dia

Venha, peço passivamente para que venha a escuridão da noite.
Para que brotem as palavras, despertem os sussurros, cresçam os frutos de uma criação.
Venha, peço ansiosamente para que chegue a vastidão do escuro.
Para que cresça a noite, despertem os sussurros, brote lentamente uma imagem de perfeição.
Venha, para que surjam as estrelas, suguem meus ouvidos, chacoalhem os sentidos e por fim, depois da tortura eterna do calor do dia, atendam ativamente o meu pedido.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

tac tic


Faltam quarenta segundos, ou mais. O tempo ficou muito escuro essa noite e por isso, só por isso, me perdi na imensidão das horas. Acho curioso a maneira como os estranhos riem de mim. Porque estranhos são eles, não eu. Olham como se participassem constantemente de uma maratona do tempo. 'Vamos ver quem corre mais, quem chega primeiro, quem volta pra trás.' E eu, por não querer controlar algo que nem ao menos existe, sou julgado como louco. Então serei. Serei louco, imoral, libertino. Serei tudo que o mundo exige, seja me contestando, seja me reprimindo.
Acelera
era
e agora
desacelera
num piscar de olhos
pisca
a vista
investe
em quem
acelera.
Era
e agora,
desacelera.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

História


De súbito, entregou-se.
Entregou-se ao apto,ao álcool, a vida.
Entregou-se cedo, com medo, com calma.
Fez uma conspiração e contou
tostão por tostão
de uma fatalidade triste.
Criou uma estrada, fingiu um livro
inventou uma palavra.
Cresceu o filho, deu adeus ao nada
fez tragédia pouca
fez história rara.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

silêncio

Eu lhe dei tempo
dei meus olhos
as palavras
Eu lhe dei suspiros
lembranças
vontades
Eu lhe dei meu tempo
meu sentido
exclusividade
dei minha história
um amor
caridade
e você
por ser escravo
deu silêncio

terça-feira, 11 de janeiro de 2011


O que fiz de mim, fizemos nós. Nós que colocamos o leito da vida no papel. Essas palavras, sempre tão assustadas, com medo de aparecer. Sempre discretas, apareciam inversas ao que propunham. E nós, castigados pelo furor da individualidade, tentamos inutilmente demonstrar. São só reflexos. O nosso impossível já foi declarado. Mas são só reflexos. Não deveriam ser?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Fotografia


Não, não suma assim
quando o tempo, senhor de todos os altares
vier cochichar um parágrafo
precisarei te encontrar.
Não, não suma assim

quando a escuridão vier me abraçar
precisarei de você, sempre imóvel
virar fotografia, coisa que a gente fazia
eu e você.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Leve-me com leves passos
ao encontro, desencontro meu retrato
a finalidade de tanta vontade
não é busca nem principio
minha musica não é veloz
com sensatez, não escuto
nem obedeço minha voz
ser transposto
outro gosto
é capaz.