sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Poesia para minha mãe

Exatos nove meses
de criação
e quantos sonhos, momentos
anseios internos
não absorvi
do calor de minha antiga morada
Sonhos que se refletiam
no caminhar lento da
gata dos saltimbancos
e nas cores vivas do
Chico Bento
com sua fala arrastada.
Porque não importa o quanto
a altura aumente
a cabeça sempre cabe 
no colo acolhedor e quente
de mãe
Eu diria obrigada, mas o 
agradecimento 
não supera o amor
que abriga corações
ao contrário
diferentes em suas fantasias
mas que se completam
num sincero
amor
de mãe e filha.

domingo, 26 de agosto de 2012

Ponteiro

Ontem
perseguia-me
colado, grudava em mim
junto a cama em que me deito
todas as noites
em que a luz ao cansar-se
afoga meus pensamentos
para um canto escuro que vive
e mesmo
vívido
se faz vítima
Carrega consigo
todos os sorrisos que já
sorri
e o faz em cada dobra
um pouco menos inocente
mesmo encarando insistente
essa mania de se fazer feliz
Busca e combate uma essência
será que foge
ou ainda minha
devagar constrói
e multiplica
ideias, canções, gritos, personagens
intensifica emoções
faz de poesia
imagens
mas traz consigo também a morte
que se mescla vida
e vira tão subtraída
a ponto de parar.
Por isso um registro
algo que surge
algo que marca
o instante que foge
traz uns tão pra longe
que a mão estende
o coração entende
mas o tempo não alcança
nem há de tentar.

sábado, 25 de agosto de 2012

Cinema

Eu sentia que tinha alguma coisa errada
assim como um fogo queimando a garganta
que gritava
gritava
explodia
era uma badalação interna
que corrompia qualquer sino sacro
de igrejas mal vistas
Era uma sensação de que essa realidade
não bastava
por ser bem ou mal
parte humana
parte racional
e me sacudia toda
e me tremia a boca
de um frio que podia matar.
Sequer julgava errado
essa cena toda
porque o desabroxar das palavras
era lento
e não dava sequer um aumento
pra essas imagens que se faziam notar
Não seria uma despedida, jamais
faltaria educação, ao assim falar
era só uma constatação imune
dizendo que a arte
 acusa o que é errado sem
julgar
e canta o desajeitado
sem desencantar
sujeita qualquer sujeito
recalcado
dançando no ritmo errado
a se auto-reclamar
e sendo terra no chão que
some
é desculpa
pra ser
  filme
e voar. 


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Alma não tem cor

Julgo justamente
o que não foi respirado
O disfarce da tonalidade
verde quadro negro
verde árvore no fim da tarde
verde blusa de manga comprida surrada
Tem sorrisos que completam
o dia
Alma cor sem cor,
alma universal
de todas as cores, afinal
que se recicla ao se
misturar
na dança do piano
e no batuque do tambor
Se refaz em pedaços
reciclando-se em si mesma
Alma desigual e parte de 
tratados em palavras de
qualquer um
Sem cheiro
e com todos os sujeitos
Alma desalmada é alma
sem "eu"
sem corpo, sem sexo, sem cor
Ama alma de todos os tempos
alma sem sabor
revoltando-se em cima do palco
camas, florestas
platonistas e pitagóricas
descendentes e transcendentes
alma de ser
alma que é
alma viva de flores
apresentação completa
é de todas as cores.

domingo, 19 de agosto de 2012

Amante


Eu queria uma poesia que suprisse tudo
sugasse todas as mágoas
mesclasse todas as músicas bonitas
e transformasse em amnésia qualquer desventura vivida
Eu queria uma poesia que salvasse o mundo
transformasse todos os amores em eternidade
e toda eternidade em inspirações
uma poesia que colecionasse promessas
e resultasse em sorrisos
Eu queria uma poesia onde as lágrimas dançassem
os apertos fossem flores
apertos flores em corações não respondidos
em julgamentos apressados
e abraços comedidos
Eu queria uma poesia que me fizesse viajar
aos 80 com Raul
me transformasse no acampamento das guerrilheiras
nos 60
e de tudo fosse também tatuagem
fosse duas mãos tocando disfarçadas
com trilha sonora de banda de garagem
Queria uma poesia que me jogasse aos ventos
e carregasse no colo
que transcendesse o tempo
intensificasse o momento
eu queria uma poesia
da vida
uma vida
balançante
cambaleante
firmemente
amante
e fiel
de poesia

sábado, 18 de agosto de 2012

Terra Cadente


Como qualquer onda
a revolta da respiração
julgando-se branda e ríspida
como quem julga certo
um justo foco de divagação.
Vamos armar os sinos
usar os livros
as amarras
surdo é o ouvido que ouve
casta, a boca que fala
e o que falta?
Parece ter tanto nesta dimensão imensa
suspensa por uma bolha imaginária
que intercala luz e transpirações
e nestas imagens belas e contraditórias
determinamos respostas firmes
baseadas em nada
mergulhadas em falhas
do sucesso estranho
de palavras navegantes.
Somos nós
os poetas, os errantes
os seres ausentes de beleza
disfarçados na natureza
que fazem do mundo o tudo
a terra cadente
de divagações
as letras insistentes
das revoluções.

sábado, 11 de agosto de 2012

Sangue branco


Dois pés roçando embaixo de um lençol frio
inconformados por não serem quatro
cinquenta e um dias vazios
repletos de incertezas prazerosas
que de cabeça para baixo
fazem cócegas nos relógios
queria uma imagem
um conjunto de palavras
notas estranhas estragadas
mas nada
nada digere esse estranhamento
esse estranho momento
de ser uníssono
som cambaleante
sonho dos errantes
procura-se uma anistia
constrói-se fantasias
para executar um plano
perseguir o engano
da auto-perseguição imaginária
e essa ambiguidade?
acho que o vermelho
desse coração quente batendo
me assusta
vou amar o sangue frio
e branco
das folhas de papel vazio.

domingo, 5 de agosto de 2012

Jardim de Ideias


Não que haja em mim algum exemplo grandioso a ser seguido, mas posso assim dizer, que tenho precocemente uma profissão, iniciada aos dezesseis anos, quando escrevi a primeira palavra de meu romance. Qual era mesmo? Deixe-me ver.
“-Bom dia, majestade.”
É assim que começa. Aos dezoito terminei a tarefa, e posso dizer, que independente de gosto ou reconhecimento, veio em mim um suspiro de alívio. Muitos acham que comecei cedo, e por isso, um esclarecimento: comecei cedo mesmo, quando ainda cambaleante nos passos, ganhei meu primeiro livro.
Mágica,magia existe nas palavras e um novo mundo se abriu. Tive a oportunidade de crescer lendo Vinicius de Moraes e ouvindo musicais do Chico, não que tenha vivido em uma família de intelectuais, pelo contrário, a questão (ou sorte) é que veio até mim, e pude logo no início da minha existência, dar esse tão esperando suspiro que muitos esperam a vida, e muitas vezes não o alcançam.
O que me faz ver hoje nas crianças, um futuro, é bem simples. Basta esquecer o tempo. Numa grande imensidão cósmica, só posso estar hoje feliz comigo mesma quanto artista, em razão do que tive oportunidade de ter na infância.
Foi numa visita à uma ocupação na Glória, que me deparei com uma pequena escritorazinha de seis anos,ela carregava papel e caneta e estava em uma tremenda ânsia para criar.Juntas, escrevemos uma história. Ou melhor, direitos autorais garantidos, meu papel foi apenas redigi-la. Mesmo sem poder entrar em uma livraria e escolher o livro que quisesse, ela gostava de histórias.
E não só ela, na minha visita seguinte, mais ou menos doze crianças, ouviam silenciosa e atentamente, a aventura que eu tinha pra contar,vindo de um dos dois livros, que com muita competência, acharam no meio daquele grande e caloroso prédio. “Conta outra, tia,conta outra.” Não hesitei, pesquei na memória minha história preferida “O pequeno príncipe.”, ouviram, mais uma vez ansioso e atentos conseguiram conhecer o príncipe, os baobás, as rosas e as pessoas grandes que só sabem somar.
Para minha surpresa e emoção, a mesma menininha escritora, contou-me a história com fluidez e perfeição,mesmo semanas depois.
E então?
Então não precisa de muito. Hoje faço filosofia, e entendo o poder das ideias. Mas entendo mais ainda o poder das ações, das modificações.
Por isso criei o Jardim de Ideias, com ele, criaremos bibliotecas sustentáveis em ocupações, para que as crianças possam conhecer milhares de mundos, diversos castelos, seres terríveis e encantados, para que cresçam e possam, sem levar tanto tempo, dar seu primeiro suspiro de alívio. O primeiro de muitos,obviamente.
Jardim de Ideias: plantando livros colhendo sonhos.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O "x"

Exatos oito minutos de criação
Tanta música bonita que se esconde
atrás das mágoas
do que já foi história.
Mágoas que assopram e mordem
as próprias feridas
Socorro, há pouco tempo restante
para embalar as palavras
antes que se transvistam
virem ralas
antes que se insistam
escondam trapos
E esse susto delirante
tenho certeza
certeza que a terra girou
quase agora
e meu quarto todo rodou
um quarto de raiva
um quarto de medo
dois cubos de gelo
toda essa pérola sai correndo
e grita
socorro socorro
olha o tempo
o amor não é o mistério do homem
o homem que é o mistério do amor

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Espelho quadrado


Que poderia sim romper meu sono
quebrar meus dentes
me envolver discreto
ultrapassar todos os tempos
que rodeiam a noite
e pesam nos olhos cansados
regados
por um vento quente
coração pesado
de carregar vulcões
Que poderia, e por que não
compor com meus batimentos
desritmados
uma canção exclusiva
e desalmada do coração
poderia atacar a disritmia
suspender a calmaria
o até então
Poderia ser ré no que era frente
e
suor no que foi verão
julgamento no que era justo
e estribilho no que já foi refrão
arrancaria os pulsos
cortaria os gostos
arderia os ouvidos
de tanto gritar
mas sincero
o que não houve
e não há
é esse estranho instinto
que pode ser azedo, cretino
desgostoso, inanimado
estranho inverso
pulsativo ao contrário
só deveria por fim
ter uma vida
recíproca vida
dos seres amados.