sábado, 29 de outubro de 2011

Dedos

Desliza
liso assim no reflexo dos meus dedos
que mal pensam
só reagem
em um segundo
numa manifestação
um sub-mundo.
Mensageiros ordinários
e fiéis
meus temidos e amados
companheiros
são os últimos
os primeiros.
Perceba, há uma amarra
em meu grito
sustentado,
reprimido
não há mais voz
não há mais som
só existe um enredo
palavras.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

5th

Pouco me importava com a agressividade do momento,
mal noto, pouco me importo!
Mas que insistência, que mania
e eu, agora, substancia incapaz
julgava-me tanto que de quase
caí para trás.
Pois num susto, debrucei-me
no vulto
de tudo aquilo que desapareceu
era o silêncio
era eu!
Logo eu, que só balbuciava em cordas de guitarras
estava agora inventando Invernos
destruindo castelos.
Mas que loucura!
Mas que tortura!
Meu movimento só provinha da música
e de um álcool vencido na dispensa.
Mas que dor!
Que insistência!
Cale-se, Beethoven
Cale-se!!!

sábado, 22 de outubro de 2011

Céu

Será que haverá
o dia entre todos os dias
em que o sol
amanhecerá meu sorriso
que discreto, conciso
será prova da refutação
amorosa
que tranquilamente
baterá meu coração?
Ou diverso, nascera
coberto, para alternar
um ritmo, que descarrega
e acelera
tanto
que mal consigo acompanhar?
Espere, olhe pela janela
a noite mal terminou
o sol nem meu nem seu
será nosso
e o dia
mal acabado
ainda
está nublado.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Os intocáveis.

ah, vocês
com ares despreocupados
andando por pensamentos errados
e usando desculpas de primeira
vez.
Sem reflexo na imensidão dos ares
intrigantes
palpáveis
divagação de uma mente só.
Por isso, do outro lado inspiro
na esperança de ser respiração
mas vocês,
bondosos, mal criados
nem fingem de tão certo
que foi se acostumar.
Pois nem sequer me percebem,
ás vezes detestam-me,
por não notar.
Não há afirmação exata
que se possa esclarecer
mas há um resto
uma palavra
que reflexão
pode virar.
Ou, transcendendo
virar
ar.

sábado, 8 de outubro de 2011

O operário de Toulouse Lautrec.


Sim, sim, sei que me julgarão louco, inconseqüente! Comentarão que estava com meus sentidos alterados devido ao whisky que me serve de companhia todas as noites antes de dormir, mas não lhes darei ouvidos. Estou certo.

Caminhava lentamente e despreocupado pelos ares vespertinos da França atual, de certo era um operário livre, arbitrário. Perfeito plano, quem desconfiaria dele? Mas em mim, tinha a total certeza. Era um autentico Toulouse-Lautrec. Não, não me venham com indagações, perguntando insistentemente o como e o por que daquilo se passar na minha frente, apenas sei que sim, o era.

Andando formalmente rápido, fui obrigado a diminuir o passo, de modo que minhas pernas acompanhavam seus assobios. Inconseqüente! Despreparado! Nem sequer tinha noção do que carregava em seus braços, do valor e da identidade que aquele pequeno quadro representava para a França e para a história da arte. Sua calma me irritava e simultaneamente, acelerava meus pensamentos. Deveria ir falar com ele? Mal notava minha presença! Notaria também meu sotaque latino? Porque, confiem em mim, eles sempre notam.

Mas ele era apenas um operário, um simples operário carregando um Toulouse Lautrec em seus fortes braços. Vejam, agora diminuíra os passos! Mas que diabos, teria que andar mais lentamente ainda a partir de agora! Ah, mas em uma idéia fugaz, alcançá-lo-ia facilmente e não seria muito difícil arrancar-lhe o quadro. Pois seria um fugitivo, fugiria da França, do mundo talvez. Seria um errante, um exilado. Mas seria um exilado dono de Toulouse Lautrec.

Olhou para trás despreocupadamente, sutil ou inconsciente, parecia notar minhas divagações. Percebi as flores, desviei o olhar. Ele continuava a assobiar, e calmamente, andava tão soniferamente, que não parecia sequer andar. Ora, mas se diminuísse os passos mais uma vez...

O que diriam de mim? O que comentariam quando em um chá da tarde qualquer, entrassem em minha casa, e ela não fosse mais, somente uma casa e sim, uma pequena moradia, abrigo de Toulouse Lautrec. Saberia perfeitamente onde colocá-lo, naquele vão, espaço vago, entre o pequeno bar e a porta. Sim, combinaria perfeitamente! Não haveria do que reclamar. Quantas damas não iriam me visitar, meus amigos, parentes distantes, seriam todos testemunhas de um homem espetacular! Que não seria mais somente um homem, morando em uma casa que é somente casa. Seria um glorioso, um protetor da história e da arte!

Mas ele, que agora o carregava em outros braços, desviou-me o pensar. Virou em uma pequena rua, verde, ingênua e eu, vergonhoso e desesperado, o segui. Mas ele não era somente um homem, era um herói, um guardião! Disfarçava-se de operário, mas consigo haviam jóias, santuários. E percebeu, tramadamente, deu-se conta de minha percepção. Na sua condição sobre-humana, sabia que de mim não deveria fugir. Para afastar-me, afugentar o risco, não hesitou. Começou a andar mais e mais devagar...