sábado, 8 de outubro de 2011

O operário de Toulouse Lautrec.


Sim, sim, sei que me julgarão louco, inconseqüente! Comentarão que estava com meus sentidos alterados devido ao whisky que me serve de companhia todas as noites antes de dormir, mas não lhes darei ouvidos. Estou certo.

Caminhava lentamente e despreocupado pelos ares vespertinos da França atual, de certo era um operário livre, arbitrário. Perfeito plano, quem desconfiaria dele? Mas em mim, tinha a total certeza. Era um autentico Toulouse-Lautrec. Não, não me venham com indagações, perguntando insistentemente o como e o por que daquilo se passar na minha frente, apenas sei que sim, o era.

Andando formalmente rápido, fui obrigado a diminuir o passo, de modo que minhas pernas acompanhavam seus assobios. Inconseqüente! Despreparado! Nem sequer tinha noção do que carregava em seus braços, do valor e da identidade que aquele pequeno quadro representava para a França e para a história da arte. Sua calma me irritava e simultaneamente, acelerava meus pensamentos. Deveria ir falar com ele? Mal notava minha presença! Notaria também meu sotaque latino? Porque, confiem em mim, eles sempre notam.

Mas ele era apenas um operário, um simples operário carregando um Toulouse Lautrec em seus fortes braços. Vejam, agora diminuíra os passos! Mas que diabos, teria que andar mais lentamente ainda a partir de agora! Ah, mas em uma idéia fugaz, alcançá-lo-ia facilmente e não seria muito difícil arrancar-lhe o quadro. Pois seria um fugitivo, fugiria da França, do mundo talvez. Seria um errante, um exilado. Mas seria um exilado dono de Toulouse Lautrec.

Olhou para trás despreocupadamente, sutil ou inconsciente, parecia notar minhas divagações. Percebi as flores, desviei o olhar. Ele continuava a assobiar, e calmamente, andava tão soniferamente, que não parecia sequer andar. Ora, mas se diminuísse os passos mais uma vez...

O que diriam de mim? O que comentariam quando em um chá da tarde qualquer, entrassem em minha casa, e ela não fosse mais, somente uma casa e sim, uma pequena moradia, abrigo de Toulouse Lautrec. Saberia perfeitamente onde colocá-lo, naquele vão, espaço vago, entre o pequeno bar e a porta. Sim, combinaria perfeitamente! Não haveria do que reclamar. Quantas damas não iriam me visitar, meus amigos, parentes distantes, seriam todos testemunhas de um homem espetacular! Que não seria mais somente um homem, morando em uma casa que é somente casa. Seria um glorioso, um protetor da história e da arte!

Mas ele, que agora o carregava em outros braços, desviou-me o pensar. Virou em uma pequena rua, verde, ingênua e eu, vergonhoso e desesperado, o segui. Mas ele não era somente um homem, era um herói, um guardião! Disfarçava-se de operário, mas consigo haviam jóias, santuários. E percebeu, tramadamente, deu-se conta de minha percepção. Na sua condição sobre-humana, sabia que de mim não deveria fugir. Para afastar-me, afugentar o risco, não hesitou. Começou a andar mais e mais devagar...

Nenhum comentário: