sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Diário didatico

Ausente de tempo e de espaço.
Porque a ideia era esquecer não de si mesmo, mas de si perante o outro.
"E ninguém precisa saber, se não vão me chamar de hippie, dizer que o tempo já passou, e que depois de velho não se faz mais essas coisas."
Disse que foi pra Nova York resolver alguns problemas, assunto sério e situação não tão cotidiana. "Que coisa chique, doutor. Vê se traz um daqueles cremes de madame pra mim." Falou a moça que trabalhava no escritório, uma das poucas que o julgava algo imponente.
O por que, sabia-se lá porque. Estava cansado de barulhos repetitivos, gostava das pessoas, mas os barulhos repetitivos o enlouqueciam. Tic, tac, tic, tac, tic, tac. Não haveria relógio na casa. Alguns livros, talvez. Ia ver o que tinha na estante.
Não precisava ser frio demais, mas o suficiente para não querer sair. E nem cinza demais, o suficiente para não confundir o olhar.
Talvez um wiskhy, resolveu colocar um blues pra ver se a tristeza tinha nome. E não tinha. Nem era tristeza. Era apenas uma instantânea repulsa à barulhos repetitivos. Mas tomou wiskhy mesmo assim, e ouviu blues mesmo assim. Cruzou duas pernas, uma harmoniosamente em cima da outra, dividindo o mesmo espaço na mesa recém comprada.
"Hippie, eu". Pensou rindo sozinho. "É provavel que alguém, em algum lugar impossível ou distante, me admire agora."
Estava começando a aproveitar a própria presença e ascendeu um cigarro. Um cigarro, não. Um charuto, porque a data merecia. E que dia é hoje? Mal sabia, pode ser até que escureceu.
Um passo passa, passam horas esquecidas, quanto tempo
quanto tempo
mas não há mais relógio. Tic, tac, tic, tac.

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