quarta-feira, 25 de abril de 2012

Enredo do "cala"


Tem um momento em que tudo fala.
É ensurdecedor, disparado. São televisões já desligadas, quadros inacabados saindo desesperados do asfalto. E tudo fala.
Roupas reviradas cochicham, livros mal tratados espirram, CDs arranhados agora cantam desgovernados. E tudo fala.
No começo, enlouqueciam-me. Hoje, não mais.
Apenas espero, no espaço, o momento em que tudo fala.
Ás vezes a loucura também suspira, quase nada. É bem baixo.
Mas há um tempo, o silencio.
Vazio que não se encontra, por não haver.
As garrafas agora gritam “procure, procure”. Mas já procurei. E não há.
Hoje até acho graça, e as escadas riem comigo. Somos desvairadas, inimigas dos comprimidos.
Mas esses são círculos chatos! Perdem somente, no entanto. Para nada.
Nem as máquinas de calcular, os açoites, os trambiques, os tratados, os chiquiliques.
Chilique de gente chique. Falam as plumas.
As folhas roxas me encadernam, contam discretas todo o enredo.
Mas caio, esqueço o barulho
e durmo de papo
com o travesseiro.

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