Tava com uma sensação estranha de estar indo pro lugar
errado, e a rua estava escura e vazia e silenciosamente insuportável. E a porta
estava meio aberta, e por mais que perguntasse, não sabia que dia era hoje.
Curioso, que a cada dia que investigava, o dia também mudava. Mas se os dias são
todos tão diferentes por que diferenciam-se pelos números? Protesto.
Vamos diferenciá-los por palavras. E então, quando o sujeito
perguntar: Que dia é hoje? Podemos responder simplesmente: amargo. ou doce. ou
sujo. ou ralo. ou tudo. ou sábado.
Ela insistia naquele cheiro e ouvia, mesmo que por chiado,
meu nome ser chamado. Pimenta sempre teve uma textura tão estranha, ela dizia e
eu respondia, não, não, a textura da pimenta sempre existiu, é o seu toque que
não combina com o dela e ela respondia, então tá, o problema sempre sou eu.
Engraçado que naquela época eu usava óculos, e agora, de
repente, não uso mais. Engraçado também, que não passei a enxergar melhor
depois disso,pelo contrário, tudo fica cada vez mais embaçado e longo, mas não
me importo, e sequer deixo a testa franzida para tentar enxergar melhor. Lembro
daquela galeria, tinha um aspecto quase mágico, quase místico e as pessoas andavam
de um lado pro outro e ela puxava minha mão e dizia ei, olha pra cá e eu olhava
e sempre via uma coisa nova que nunca tinha visto antes.
Ás vezes tento entrar de novo, mas desisto. Acho que as
coisas novas acabaram. Esgotaram-se. Fundiram-se com o infinito. Nem me vem
dizer que isso é inferno astral que eu não acredito nessas coisas. Tá me
olhando assim por que? Não acredito mesmo. Tranquilize-se, não serei mais um
daqueles que diz “Não acredito mais em nada”. Que bobagem. Papo tolo. No nada
eu ainda acredito, mas é claro. Também não sou tão cético assim.
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