Não que haja em mim algum exemplo grandioso a ser seguido,
mas posso assim dizer, que tenho precocemente uma profissão, iniciada aos
dezesseis anos, quando escrevi a primeira palavra de meu romance. Qual era
mesmo? Deixe-me ver.
“-Bom dia, majestade.”
É assim que começa. Aos dezoito terminei a tarefa, e posso
dizer, que independente de gosto ou reconhecimento, veio em mim um suspiro de
alívio. Muitos acham que comecei cedo, e por isso, um esclarecimento: comecei
cedo mesmo, quando ainda cambaleante nos passos, ganhei meu primeiro livro.
Mágica,magia existe nas palavras e um novo mundo se abriu. Tive a oportunidade
de crescer lendo Vinicius de Moraes e ouvindo musicais do Chico, não que tenha
vivido em uma família de intelectuais, pelo contrário, a questão (ou sorte) é
que veio até mim, e pude logo no início da minha existência, dar esse tão
esperando suspiro que muitos esperam a vida, e muitas vezes não o alcançam.
O que me faz ver hoje nas crianças, um futuro, é bem simples. Basta esquecer o
tempo. Numa grande imensidão cósmica, só posso estar hoje feliz comigo mesma
quanto artista, em razão do que tive oportunidade de ter na infância.
Foi numa visita à uma ocupação na Glória, que me deparei com uma pequena
escritorazinha de seis anos,ela carregava papel e caneta e estava em uma
tremenda ânsia para criar.Juntas, escrevemos uma história. Ou melhor, direitos
autorais garantidos, meu papel foi apenas redigi-la. Mesmo sem poder entrar em
uma livraria e escolher o livro que quisesse, ela gostava de histórias.
E não só ela, na minha visita seguinte, mais ou menos doze crianças, ouviam
silenciosa e atentamente, a aventura que eu tinha pra contar,vindo de um dos
dois livros, que com muita competência, acharam no meio daquele grande e
caloroso prédio. “Conta outra, tia,conta outra.” Não hesitei, pesquei na
memória minha história preferida “O pequeno príncipe.”, ouviram, mais uma vez
ansioso e atentos conseguiram conhecer o príncipe, os baobás, as rosas e as
pessoas grandes que só sabem somar.
Para minha surpresa e emoção, a mesma menininha escritora, contou-me a história
com fluidez e perfeição,mesmo semanas depois.
E então?
Então não precisa de muito. Hoje faço filosofia, e entendo o poder das ideias.
Mas entendo mais ainda o poder das ações, das modificações.
Por isso criei o Jardim de Ideias, com ele, criaremos bibliotecas sustentáveis
em ocupações, para que as crianças possam conhecer milhares de mundos, diversos
castelos, seres terríveis e encantados, para que cresçam e possam, sem levar
tanto tempo, dar seu primeiro suspiro de alívio. O primeiro de
muitos,obviamente.
Jardim de Ideias: plantando
livros colhendo sonhos.