Nunca gostei de dizer para onde estou indo. Talvez pela
satisfação em si, talvez por inconscientemente pensar que isso poderia limitar
meu caminho.
Creio que esteja certa, pois quando naquele dia, por opção
ou acaso, acabei simplesmente seguindo aquele grito de fera aprisionada dentro
do peito, e saindo.
Pois que moro há vinte anos contados no mesmo lugar, tirando
idas e vindas inevitáveis, o cálculo se reduz á isso. E por vinte anos, creio
que em sua maioria, disse aonde ia.
Sei que dizendo aonde vou, declaro também aonde chego. E os
lugares por si só, de tanto frequentados, cansam a sua magia.
Mas não naquele dia. Posto que descobri uma rua que sempre
existiu, e eu, preocupada com os caminhos já antes traçados, não a percebia. A
percebi. E não só. A explorei, explorei como as últimas das terras habitadas,
como uma viagem á lugares inéditos e deslumbrantes. E nesta caça á novas
paisagens, percebi casas e árvores nunca vistas, debrucei-me junto á um céu,
que como todos os céus, nunca se repetirá. E posso garantir, com emoção ou
imagem, que era belo. E como é belo um céu descoberto.
Descobrir é escapar das amarras de si mesmo, que no conforto
de existir, suspende-se sem surpreender.
Mas não é que voltando, sinto um cheiro nunca antes sentido.
Era uma mistura de fragrância e descoberta:
-It is a hostel?
Ela pergunta.
-Yes.
Escuto como resposta.
Por dentro, ria.
Eu, julgando-me exploradora por adentrar um simples novo
caminho, e ela, respirando um ar que sempre respiro, na rua que até hoje vivo,
iria descobrir naquele mesmo instante quantas infinitas casas e árvores e
noites, que eu, por abstinência de ânsia de arriscar, já ultrapassei em sentir.
Mas enquanto houverem novas ruas a serem descobertas e novos
céus a admirar, posso respirar tranquila, e ainda assim, confortar-me por
faltar o ar.
Melhor do que sair sem dizer pra onde vai, é caminhar sem
ter a certeza de onde se pode chegar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário