domingo, 17 de fevereiro de 2013

It is a Hostel?


Nunca gostei de dizer para onde estou indo. Talvez pela satisfação em si, talvez por inconscientemente pensar que isso poderia limitar meu caminho.

Creio que esteja certa, pois quando naquele dia, por opção ou acaso, acabei simplesmente seguindo aquele grito de fera aprisionada dentro do peito, e saindo.

Pois que moro há vinte anos contados no mesmo lugar, tirando idas e vindas inevitáveis, o cálculo se reduz á isso. E por vinte anos, creio que em sua maioria, disse aonde ia.

Sei que dizendo aonde vou, declaro também aonde chego. E os lugares por si só, de tanto frequentados, cansam a sua magia.

Mas não naquele dia. Posto que descobri uma rua que sempre existiu, e eu, preocupada com os caminhos já antes traçados, não a percebia. A percebi. E não só. A explorei, explorei como as últimas das terras habitadas, como uma viagem á lugares inéditos e deslumbrantes. E nesta caça á novas paisagens, percebi casas e árvores nunca vistas, debrucei-me junto á um céu, que como todos os céus, nunca se repetirá. E posso garantir, com emoção ou imagem, que era belo. E como é belo um céu descoberto.

Descobrir é escapar das amarras de si mesmo, que no conforto de existir, suspende-se sem surpreender.

Mas não é que voltando, sinto um cheiro nunca antes sentido. Era uma mistura de fragrância e descoberta:

-It is a hostel?

Ela pergunta.

-Yes.

Escuto como resposta.

Por dentro, ria.

Eu, julgando-me exploradora por adentrar um simples novo caminho, e ela, respirando um ar que sempre respiro, na rua que até hoje vivo, iria descobrir naquele mesmo instante quantas infinitas casas e árvores e noites, que eu, por abstinência de ânsia de arriscar, já ultrapassei em sentir.

Mas enquanto houverem novas ruas a serem descobertas e novos céus a admirar, posso respirar tranquila, e ainda assim, confortar-me por faltar o ar.

Melhor do que sair sem dizer pra onde vai, é caminhar sem ter a certeza de onde se pode chegar.

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