quinta-feira, 11 de março de 2010

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Percebia visivelmente, e para minha vista não era necessário entender que ela fazia aquilo mais por sadismo do que por razão. Mordia lentamente um pedaço e a cada mordida renovada colocava um novo pingo de pimenta. Eu, devia dar-me por satisfeito. Esperava da maneira mais honesta que ela olhasse para mim e dissesse que cozinho terrivelmente mal, que só comeria aquela comida horrorosa, ou por fome ou por caridade.
Não sei se nem um ou nem outro, só sei que lá estava. E colocava aquele molho vermelho que eu tanto detestava, tanto por seu gosto quente quanto por sua lembrança gélida.
"Tenho esse molho aqui só por sua causa".
Ela, olhando como quem não tem muito o que perder, respondeu
"Suas declarações de amor são sempre tão comoventes"
Minha vontade era verdadeira, tinha certeza que apesar da idade, nunca fui tão velho assim. Ah, se eu pudesse, a jogaria longe daquela mesa e faria com total certeza o que deveria ser feito. Mas não o fiz.

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