quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vigésima primavera

Quem é esse senhor de barba
e terno escuro
que me fita assim meio perto meio
como quem se esconde
empurrando sempre o desassossego
pra longe
e me faz criança
pra correr atrás das pipas
que sequer levantavam vôo na minha longa infância, coitadas
por navegar sempre com navegante de vento contrário.
Visitava então um lago
de pães macios e patos contrariados
e que prazer tinha aquilo, meu deus
que teria hoje, eu sei
mas só não há porque não há mais
lago
nem pães macios
nem patos
Há um resto de livros ainda vivos
que nunca serão lidos ao contrário
no máximo, esconder-se-ão tímidos
no fundo do armário
até se depararem com outro tempo
que ainda cresce e insiste.
Porque o meu um dia fica velho, que sei
mas por enquanto sequer passa
só o sol que dança com a terra
e me faz crer, descrente e sincera
que mais cedo ou mais tarde
chegará minha vigésima primavera.

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