segunda-feira, 2 de julho de 2012

Língua


Ninguém sabia de onde eu vinha, diziam olha só, o que você é um anjo um usurpador um santo um demônio, eu dizia não, não e ria, sou só algo que precisa ir embora, então você já vem sabendo que vai embora, sim eu respondia e eles coçavam a cabeça e perguntavam então por que veio. Vim porque tinha que vir e as coisas acabam, mas aqui ninguém vai embora não, é da barriga pro céu do céu pra barriga, eles me olhavam torto e achavam muito engraçado eu ter uma mochila ou trouxinha que era como eles chamavam. As crianças achavam que eu era um super herói porque só tinham visto gente  assim lá na teve, uma só que seu Antonio tinha na vendinha e era festa quando conseguia fazer funcionar, elas pegavam minha gaita e falavam que tinha um rádio lá dentro e eu sorria um pouco, meio de lado e fazia graça e elas riam tanto que só elas e eu gostava muito. A cidade toda já me conhecia, aqui não é cidade não, é o que então, eu perguntava, aqui é aqui , eles diziam, e você é o que, eu sou eu, respondia e daqui a pouco a cidade inteira sorria pra mim, que podia até não ser cidade, mas era feliz, mesmo sem saber o que é felicidade. Então um dia o vento soprou mais forte e eu senti que era a hora e eles choraram tanto e perguntaram, mas afinal, você é o que um anjo um usurpador um santo um demônio e eu dizia não, não sou não, sou só alguém que precisa ir embora.

Um comentário:

Mário de Oliveira disse...
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