sexta-feira, 26 de julho de 2013

Caco

Que brote em mim a ideia de matar o tempo
Que morra em todos, a falsa ilusão de confundir
 hoje com ontem
O dia partido traz em si a ilusão de viver
Vida não é existir
Vida é transgredir a existência
De todo o óbvio, consolida-se verdade em olhos descobertos
Malícia do som externo da rua que me envolve
E mesmo agora
Minto
Qual erro mora em minha mentira
Que não possa ser abençoado?
Benção aos desajustados
Os corretos constroem um mundo enfermo
Os certos constroem o inferno
Só quem é feliz em sua própria mentira
É capaz de amar
Só quem dança com almas partidas
Pode entender a beleza do amanhecer
Corpos inteiros, almas completas, certezas repletas
Não vagueiam meu mundo
Meu mundo é todo feito de cacos de vidros
Que sangram em si mesmos
O amargo da ferida
E sedentos, saboreiam
Inertes, maltrapilhos, presentes
Eles sim saboreiam

O sabor da própria vida

terça-feira, 23 de julho de 2013

Linhas

E então
Valeria mais o sofrimento
Do que essa manifesta e presente
Borboleta da emoção
Que se ausenta?
Ah, mas de tudo, não sei
Constrói-se um castelo,
Inventa-se um suspense
Na vida suspensa
Essa vida, se existe
Pra que existe?
Será que pra ser bela,
Será que existe pela dança
Ou pelas crianças
Ou sabe lá sequer se existe
Bebe-se o cale-se
Das partidas
Brinca-se com os riscos repartidos
Ah, qual delas
Qual estrada será meu destino
Meu ponto final ainda brilha distante como uma estrela prematura
O ponto de exclamação que voa presente
Cadente
Dançante
Sou de tudo, um pouco nada
Um pouco nada que se faz
Um pouco nada que se importa
Um pouco nada que insiste em tudo persistir
Cato todos os sonhos de Pessoa
Encanto o infinito de Vinícius
Vejo de longe o bater de asas do Passarinho engaiolado e livre de Quintana
E sei que de todos os risos
Um valerá a pena, nem que seja um pássaro inteiro, mesmo daqueles pequenininhos
Voa, voar nas palavras fiéis, bonito traço de meu destino
Essas linhas que se juntam
Cruzam
E rumam
Desconexas

Rente ao inexistente 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Liquidificador ou: arte pra mim, o que é?


Arte pra mim é o que acolhe e joga no mundo. Que faz do todo, seu minuto.
Aquele momento, em que mais nada existe, apenas um passo, um grito, palavra.
Arte que me faz arte e também artista, que acalenta com seu choro, e consola-se em si mesma em seu infinito rio de lágrimas.
Não digo exatamente que é o que me conserta, mas é o que faz de meu desconcerto, algo harmônico.
E o que era angustia vira livro e suspiro. Desconcerto-me, desconcentro-me do mundo e de toda matéria real, tudo vira pulso, momento pulsante, respiração e batimento cardíaco não são mais o que eram,
Quando caminhavam discretos
No asfalto, matéria antiga
Meus pés querem matéria viva
Como essas que compõe os sonhos. Mundo romântico de quem ama, todo artista de verdade já sofreu por amor. E quem não?
Sendo o que é, não passa então de uma reciclagem, de mente pra corpo, pra tudo e pra arte.
Como pode, nesta seqüência de letras, de notas, neste cambalear certo onde caminham os movimentos
Como pode conter uma emoção liquidificada, sentimentos lubrificados pelo entardecer ou nascer do sol
Lua não é só lua
Dor não é só dor
Amor? É todo o resto!
Arte, companheira, amante, deita comigo na cama, desperta em mim toda a vida
Esquece o asfalto
Minha matéria prima

É o palco.