terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Travesseiro.

Havia um grito em mim. Que me acordava repentinamente todas as manhãs. Não avisava á ninguém. Só levantava, encarava aquela cópia barata de Modigliani, passando uns dez centímetros de uma A4, olhando-me com pescoços longos e olhos tristes e ia fazer um chá, um café ou qualquer um desses líquidos que por convenção toma-se pela manhã. Não sabia se era manhã.
Ás vezes acordava com o corpo doendo do wiskhy e algo em mim, talvez o primo do grito, repetia "acordar de ressaca do porre que tomou sozinho, João Ricardo, mas que merda heim, o fim da picada."
De vez em quando eu consentia e retrucava
-fazer o que? Se ninguém quis tomar um porre comigo. E olha que você nem é tão velho. Quarenta menos cinco. Porque se fosse mais cinco seria justificável.
Mas tinha uma barzinho com sinuca lá na esquina, passando o restaurante vegetariano que abriu, e como já parecia escuro quando acordei, não cairia mal aparecer por lá.
"É muita falta do que fazer, heim João Ricardo."
Mas eu vou. Vou mesmo assim.
Porque daqui a pouco o tempo fecha, começa a chover e corre o risco de ficar preso aqui pra sempre.

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