domingo, 25 de março de 2012

Aham

Respondia um grunhido qualquer só pra não ter que
permanecer durante muito tempo na conversa. Seu avô mesmo que dizia
"quando a gente vai falar com maluco, a gente concorda com tudo, qualquer coisa."
-Aham. Ele respondia
-As estatísticas indicam! Insistia seu chefe
E ele, naquele estado de sono lúcido profundo, retribuía
-Aham
- Você concorda comigo? Perguntava extasiaste e nervoso, com veias latejantes que produziam no outro, nojo e desespero
-Aham. Respondia
-Está bem. Falava o chefe dando-se por satisfeito antes de sair
"Aham." Com o "aham" vou dominar o mundo. Pensava cansado demais para acender um cigarro, a mão olhava para o isqueiro a dois dedos de distancia e paralisava. "Vou ficar aqui". Começou. E se alguém perguntar "Qual é, malandro, vai ficar aí pra sempre, é?" Vou responder "aham" e eles darão por satisfeitos. Porque todo mundo reclama, mas chega em casa e tem comida pronta, roupa lavada. Eu só tenho uma empregada gorda, que sai mais cedo ás sextas pra não perder o pagode. Acho que é pagode, não sei. Ela diz que eu tenho que ir lá um dia desses, que ia curar essa cara-de-bundagem que dá em mim. Eu respondo "aham" e ela vai embora, feliz da vida pra encontrar os namorados bonitões que ela diz que tem.
Mas que preguiça. Preguiça de levantar daqui. O relógio fica girando assim incansavelmente, gira, gira, parece não ter fim, parece responder "aham" á todas as perguntas do universo.
E fica que nem eu, em estado de diamante, era uma posição de yoga que eu fazia quando era novo. Novo e hippie e com mil namoradinhas que cantavam "help" e tinham tudo dos rolling stones. Uma dizia que ia tatuar o Mick Jagger na peito. Sei lá se ela fez. Tinha olhos meio castanhos.Ou azuis. Não lembro mais.
Todo mundo arruma suas coisas. A hora em que todo mundo arruma suas coisas.
- Se eu vou ficar aqui aqui pra sempre.
"Talvez." Ou melhor. "Aham."

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