quarta-feira, 20 de junho de 2012

Lente


Tava com uma sensação estranha de estar indo pro lugar errado, e a rua estava escura e vazia e silenciosamente insuportável. E a porta estava meio aberta, e por mais que perguntasse, não sabia que dia era hoje. Curioso, que a cada dia que investigava, o dia também mudava. Mas se os dias são todos tão diferentes por que diferenciam-se pelos números? Protesto.

Vamos diferenciá-los por palavras. E então, quando o sujeito perguntar: Que dia é hoje? Podemos responder simplesmente: amargo. ou doce. ou sujo. ou ralo. ou tudo. ou sábado.

Ela insistia naquele cheiro e ouvia, mesmo que por chiado, meu nome ser chamado. Pimenta sempre teve uma textura tão estranha, ela dizia e eu respondia, não, não, a textura da pimenta sempre existiu, é o seu toque que não combina com o dela e ela respondia, então tá, o problema sempre sou eu.

Engraçado que naquela época eu usava óculos, e agora, de repente, não uso mais. Engraçado também, que não passei a enxergar melhor depois disso,pelo contrário, tudo fica cada vez mais embaçado e longo, mas não me importo, e sequer deixo a testa franzida para tentar enxergar melhor. Lembro daquela galeria, tinha um aspecto quase mágico, quase místico e as pessoas andavam de um lado pro outro e ela puxava minha mão e dizia ei, olha pra cá e eu olhava e sempre via uma coisa nova que nunca tinha visto antes.

Ás vezes tento entrar de novo, mas desisto. Acho que as coisas novas acabaram. Esgotaram-se. Fundiram-se com o infinito. Nem me vem dizer que isso é inferno astral que eu não acredito nessas coisas. Tá me olhando assim por que? Não acredito mesmo. Tranquilize-se, não serei mais um daqueles que diz “Não acredito mais em nada”. Que bobagem. Papo tolo. No nada eu ainda acredito, mas é claro. Também não sou tão cético assim.

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